quinta-feira, 8 de agosto de 2024

Calor do momento

Da pandemia pra cá, nos habituamos às lives. Elas se firmaram como fonte rápida de distração, tudo direto da horta, afinal, acompanhar obras finalizadas, como filmes e livros, não é o bastante. Somos instigados pelo que acontece em tempo real, com todo o charme e os riscos que isso pode proporcionar.

Como entusiasta de registros audiovisuais, às vezes salvo algumas transmissões. Vai que algo relevante seja dito, isso não pode se perder no limbo dos servidores, penso enquanto loto a memória do celular. Geralmente acaba valendo o trampo. Pesco informação ou, no mínimo, um meme em potencial.

Desse acervo de lives, compartilho dois momentos:

Um jet de carro com Mano Brown transmitido pelo MC Vitinho RB. No vídeo, Brown coloca pra tocar um som que passei a conhecer graças à live. Se chama "You'll never get to heaven (if you break my heart)", do grupo The Stylistics. O loko é que o Brown não deixa a música seguir. Aparentemente ele queria enfatizar a intro (ou só tava tirando uma onda).

Essa é de hoje. Kamau comentando os vinis que anda garimpando no giro por Nova York.

quarta-feira, 7 de agosto de 2024

Chuvisco nuclear

À primeira vista, Beastie Boys e Novos Baianos têm pouco a ver. Um é hip-hop nova-iorquino, outro faz samba diverso, ambos flertam com vertentes do jazz e do rock.

Em 1978, enquanto a trupe brasileira lançava o "Farol da Barra", seu último disco de inéditas, Mike D e Ad-Rock debutavam como músicos, formando The Young Aborigines que, pouco tempo depois, foi rebatizada de Beastie Boys, com a chegada do Adam "MCA" Yauch.

Talvez o elo fique na sonoridade experimental de trabalhos como "Vamos pro mundo" (1974) daqui e "The mix-up" (2007) de lá, os dois atravessados pela música instrumental. A guitarra swingada de Ad-Rock cairia muito bem nas mãos de Pepeu Gomes, embora eu fique em dúvida de um vice-versa.

Entre beasties e baianos, misturaria "Multilateral nuclear disarmament" com "Chuvisco" sem erro.


terça-feira, 6 de agosto de 2024

Uma retro espectativa

Pego pra reler uns trechos de "Hip-Hop: Dentro do Movimento", livro-reportagem do Alessandro Buzo, publicado em 2010 como parte de uma coleção da editora Aeroplano dedicada à literatura produzida nas periferias.

São 316 páginas de entrevistas com nomes expressivos da cultura de rua: Nelson Triunfo, Emicida, Marechal, Pathy de Jesus, GOG, Kamau... Muita gente comunicando sua perspectiva sobre a cena naquele contexto. Tipo um mesacast, só que escrito, dado o formato de perguntas e respostas que expõem pontos de vista e repassam a trajetória das pessoas abordadas.

Uma questão recorrente na publicação diz respeito ao que o entrevistado esperava, ali na primeira etapa do século, do futuro do movimento. Passados 14 anos, e apesar dos percalços que os artistas, sobretudo independentes, costumam enfrentar no mundão, é notável o avanço. O hip-hop fixou seu respeito e lugar na sociedade e o Estado, assim como o mercado, investem muito mais no segmento do que na época em que foi lançado o livro. Verdade que há muito a se conquistar, mas o caminho vem sendo pavimentado.

Abaixo, três respostas sobre o futuro publicadas em "Hip-Hop: Dentro do Movimento":

Japão (Viela 17) - "Espero investimento individual e coletivo, que toda a história seja lembrada como um ato heróico, feito única e exclusivamente para tirar o povo pobre do descrédito e do ócio urbano."

Toni C - "Não espero. No lugar, dou minha contribuição para que o hip-hop se reerga. Da maneira que está no atual momento, está bom para quem?"

Parteum - "Espero que saiamos da caixa que nos foi oferecida no início de tudo. Já éramos multimídia antes mesmo de o termo ganhar força, Buzo. Lançar mixtapes, criar campanhas de lançamento de disco com pouca verba, gravar videoclipes (e dirigi-los), criar logotipos, printar camisetas, formatar programas de rádio e TV com a temática do gênero... Qualquer seguidor do hip-hop sabe disso, mas acho que é chegada a hora de olharmos para outros estilos musicais, outras artes e assegurar nosso lugar ao sol, pois hoje em dia emprestamos bem mais do que pegamos emprestado. A 'caixa' ficou muito pequena..."

segunda-feira, 5 de agosto de 2024

Odara é

A primeira versão que escutei de "Odara" foi a do disco "Refestança", na voz do Gil e Rita Lee. Depois, descobri que se tratava de uma canção do Caetano e fui conhecendo outras releituras, como o sample em "Rap du bom parte II", do Rappin' Hood, uma cantada pela Gal Costa no "Mina d'água do meu canto", além da gravação original do autor que tá no álbum "Bicho", lançado no mesmo 1977 de "Refestança" e que tem a mesma minutagem da versão da Gal: 7'17".

Sempre achei uma música gostosa, que te convida a navegar em boas ondas. E com duas ou três digitações é fácil descobrir que o nome Odara tem origem iorubá e significa exatamente aquilo que sugere a letra: tranquilidade, beleza, alegria. Ou seja, Odara nada mais é do que 'daora'.